terça-feira, 5 de maio de 2009

Crítica: O VIZINHO

NO CALOR DA DISCUSSÃO

Os filmes de suspense psicológico, na maioria das vezes, pecam pelo eventual reducionismo de ter sempre um psicopata como vilão. Este O VIZINHO trabalha com a deformação de uma personalidade depois (ou desde sempre) do falecimento de sua esposa – e a inesperada possibilidade de adultério – gerando todo o potencial de psicopatia em um policial (Samuel L. Jackson) que acaba por transbordar seu inconformismo nos seus novos vizinhos. O filme trabalha com a formação de mais um homicida insano dos cinemas.

O filme possui um bom roteiro e a direção de Neil LaBute soube transformar o texto em imagens atraentes, com diálogos ásperos e alfinetadas inteligentes da personagem de Jackson para com o casal da sua casa ao lado. O longa desenvolve bem suas premissas. O filme provoca uma empatia crescente no telespectador. Porém, LaBute joga na lama toda a tensão de uma narrativa baseada nos conflitos de ordem psicológica conseguida com certa facilidade – devido principalmente à boa atuação de Jackson – em seu quarto final. E então, O VIZINHO se transforma em mais um rotineiro (mas não descartável) filme sobre psicopatia. O decepcionante final atesta esta afirmação. Assim, o diretor deixou de conceber uma pequena obra-prima sobre a intolerância transformada em perda da razão.

Neil LaBute utiliza o calor e as chamas de um incêndio que aproxima das moradias dos protagonistas em questão para metaforicamente mostrar que a situação era irreversível. Recurso fílmico utilizado com estilo na trama. O VIZINHO trabalha com racismo que gera antipatia, que gera perseguição, que gera conflitos e por fim, gera fatalidade. E narra o calvário de um jovem casal às voltas com uma personagem que por desprezar a política de boa-vizinhança acaba por se transformar em um espinho para seus incrédulos e incautos antagonistas.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Crítica: EVOCANDO ESPÍRITOS


FALTA COERÊNCIA À NARRATIVA

Os filmes de terror são bem aceitos pelo espectador. Todavia, são raras as películas que conseguem atingir um nível de angústia que deixe o público com sentimentos compatíveis com o que bate na tela. Obras da sétima arte que provocam no espectador sustos e pavor são tão numerosos como os torcedores do querido América carioca. Os filmes que conseguem atingir os nervos do público são as que se traduzem como terror psicológico. EVOCANDO ESPÍRITOS não é terror psicológico, tampouco é eficiente como um filme de terror sobre espíritos malignos.

Baseado em uma história real, EVOCANDO ESPÍRITOS possui um roteiro razoável e uma direção das mais sofríveis (Peter Cornwell). O elenco até tenta entrar no clima de sofrimento e angústia que a história pede. Contudo, falta coerência e coesão à narrativa ao longo de toda a projeção. A trama possui vários caminhos equivocadamente trilhados. O filme tem como resultado final uma miscelânea de elementos mal desenhados, mal interpretados e principalmente, mal dirigidos.

EVOCANDO ESPÍRITOS é uma mistura pífia, previsível e mal ajambrada de drama familiar com terror. E discursa sobre as mazelas de uma família que desafortunadamente passa a morar em uma casa amaldiçoada. E que, sofre exaustivamente até perceber que a residência é inabitável para qualquer ser pensante de carne e osso.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A ótica do crítico

Crítica: ELE NÃO ESTÁ TÃO A FIM DE VOCÊ

O QUE DITA O CORAÇÃO

Seguindo uma das tendências desta década (colocar vários atores e atrizes conhecidos para cada um ter uma importância destacada na trama), este longa dirigido por Ken Kwapis alcança um bom resultado final ao discursar sobre a condição e natureza humana de necessitar e/ou precisar estar ao lado de alguém do sexo oposto. São várias personagens que têm dificuldade em lidar e manter seus idílios. No elenco feminino estão as estonteantes Jennifer Connelly, Jennifer Aniston e Scarlett Johansson. E ainda, a bonita Ginnifer Goodwin que vive a personagem que abre e fecha a trama e acaba por unir todas as outras pontas do roteiro. Ben Affleck é o mais conhecido ator no rol masculino.

ELE NÃO ESTÁ TÃO A FIM DE VOCÊ busca, paulatinamente e didaticamente, fazer uma reflexão sobre os relacionamentos amorosos atuais. Ken Kwapis – apesar de ter alongado um pouco a narrativa - conseguiu costurar agradavelmente o roteiro. A fotografia reluz na tela, tal o esmero da produção. O filme consegue a proeza de ser um reflexo exato das atitudes sentimentais de pessoas na faixa dos trinta anos. Os diálogos atestam esta afirmação. O filme é sensível e verossímil e aborda desde romantismo pueril a adultério com a mesma classe. E narra as incertezas do coração de uma sociedade menos rigorosa em relação aos seus dogmas e, justamente por isso, mais estressada e menos satisfeita com o andar da carruagem. O filme tem uma visão do presente sem esquecer de olhar o passado.


Crítica: PRESSÁGIO

ESTILHAÇOS DA BOMBA


PRESSÁGIO vai entrar na lista dos piores filmes do competente Nicolas Cage no futuro. A atuação do ator também vai para uma lista de suas piores performances no cinema ( taciturno e seguindo uma linha equivocada de interpretação). Cage interpreta um professor viúvo, desiludido com seus conceitos e opiniões. E desencantado com a vida que leva. Sua expressão facial é sempre triste. O protagonista deste drama sobre o Apocalipse é a síntese da cansativa e arrastada – embora tenha (d)efeitos especiais – narrativa do filme dirigido por Alex Proyas.

A fotografia em tom acinzentado e a trilha sonora vibrante são os pontos altos da película. Muito pouco para um filme que mistura tantos elementos fílmicos contidos em seu roteiro. Trabalha com números cabalísticos, alienígenas, paranormalidade e tragédias reais. PRESSÁGIO esbarra em sua própria pretensão de ser um grande filme. A história é basicamente absurda e inverossímil. O filme é sofrível e claudicante.

PRESSÁGIO narra a via-crúcis de um homem que descobre por meio de um antigo documento o código premonitório de catástrofes passadas e futuras. E que, depois de travar uma batalha ingloriosa com o destino, aceita resignado os presságios incapazes de serem evitados.

MÁRCIO MALHEIROS FRANÇA

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Crítica: FOI APENAS UM SONHO

CASAMENTO EM CRISE

A talentosíssima Kate Winslet e o sempre competente Leonardo DiCaprio voltam a estrelar um filme juntos como protagonistas principais. Depois da mega produção TITANIC. Sob a direção de Sam Mendes este FOI APENAS UM SONHO pode ser considerado como a versão, anos 2000, de BELEZA AMERICANA. Filme vencedor do Oscar no final dos anos 90, com Kevin Spacey no elenco. Há semelhanças evidentes entre as duas películas. A mais notória é a crise no casamento que é o mote principal dos dois filmes.

April (Kate Winslet) e Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio) se conhecem em um bar. E acabam se apaixonando. Os dois, já com dois filhos, decidem morar em uma cidadezinha pacata dos Estados Unidos. São calorosamente recebidos pelos vizinhos e Frank tem um emprego que detesta, mas permite uma vida confortável para si e a sua família. Até que April toma a decisão, logo acatada pelo marido, de morar na França. Os dois passam a sonhar em realizar tal objetivo. Sem saberem que a inviabilidade do projeto traria conseqüências tanto de ordem emocional como trágica para um dos cônjuges.

O filme aborda a fragilidade de algumas pessoas em lidar com o seu psicológico. Além de tratar da fragilidade na convivência matrimonial e nas relações humanas. Toda a trama gira em torno deste tripé: casamento, emocional e hipocrisia. São questões altamente relevantes que Sam Mendes soube retratar com sobriedade e elegância. Os significantes e o significado do filme funcionam perfeitamente. O jogo de conveniências empregado pelas personagens secundárias já fazia parte da sociedade monogâmica em 1955 (data da ambientação da trama). A idiossincrasia do filme procura trabalhar com o âmago dos espectadores.

A parte técnica como fotografia e cenários são requintados, mas o mérito do filme é o enfoque nos relacionamentos humanos. Isso afirma que a verdadeira intenção de Sam Mendes era fazer um filme focado nas personagens e seus conflitos, sonhos, sentimentos e frustrações. É um filme de época onde o conteúdo é muito mais destacado que a estética. FOI APENAS UM SONHO foi transposto do livro de sucesso para os cinemas. Essa adaptação sugere muitos elementos narrativos que o diretor soube explorar. Sabendo, ainda, usar a trilha sonora nos momentos certos, Sam Mendes parece ter captado a essência do livro e fez uma obra senão irretocável, bastante original e que causa impacto. Uma dos atrativos do filme são as memoráveis atuações de Winslet e DiCaprio. Com destaque para a estonteante atriz.

A rotina do casamento de April com Frank revela uma imaturidade enorme de ambos para o convívio em comum: a personagem de DiCaprio transa com uma estagiária de seu emprego; ambos não dão a atenção necessária aos filhos e ainda, sonham de maneira quase infantil com a utopia de morar em Paris – fato que desperta surpresa e inveja aos seus ouvintes -. A terceira gravidez de April é motivo – injustificado – para o início do desmoronamento daquilo que vinha se anunciando: o desfecho da relação dos protagonistas principais. A traição da personagem de Winslet – grávida – realça a inexperiência e desequilíbrio psicológico da personagem em lidar com o cotidiano.

FOI APENAS UM SONHO aborda romance, crise no matrimônio, jogo de interesses e de aparências, conveniências, adultério, aborto e utopia. E narra a gestação, formação, deformação e término de um casamento conduzido pela irresponsabilidade e imaturidade de dois amantes na faixa dos trinta anos que não possuem o suporte emocional adequado para sustentar uma relação e levar adiante o conceito de família que conseguiram realizar. Aceitam facilmente interferência externa. Até que, a fatalidade põe um ponto final a uma relação invejada nos mais próximos. E que, efetivamente, não mais existia, pela falta de comunicação entre os dois e pela dificuldade do casal em lidar com a realidade.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Crítica: QUARENTENA

TERROR INTRIGANTE E CLAUSTROFÓBICO

Este QUARENTENA estreou nos cinemas pouco tempo depois do lançamento de REC. O primeiro é, na verdade, uma refilmagem norte-americana do sucesso do segundo. O original REC é espanhol. A rapidez no tempo de produção dos remakes – em comparação com os lançamentos de seus originais - é enorme atualmente. A estrutura cinematográfica de QUARENTENA pode ser comparada também, a de A BRUXA DE BLAIR (filme que também utiliza a idéia de uma câmera na mão como sendo o ângulo de visão único do filme).

A extrovertida e atraente Ângela Vidal – personagem de Jennifer Carpenter – é uma repórter de uma emissora de televisão que, contando com a parceria de seu cameraman iniciam uma reportagem sobre o cotidiano em um quartel dos bombeiros – de olho em alguma missão -. Até que, o alarme de emergência é acionado e a jornalista parte, juntamente com uma dupla de bombeiros, para um edifício onde existe algo suspeito.

QUARENTENA é um filme produzido por um grande estúdio, mas sua estrutura – e seu mérito – é a manutenção da idéia de um filme amador. Não há trilha sonora. Os sons e ruídos do filme são do ambiente. Outra grande virtude é a espontaneidade dos atores. O destaque fica para sua estrela principal que mistura em doses corretas, o entusiasmo de uma jovem repórter, passando pela expressão de tensão com os acontecimentos e enfim, medo e desespero evidentes devido à calamidade da situação. Os diálogos são acertadamente corriqueiros. QUARENTENA passa realmente a sensação de um documentário autêntico, tal o realismo de suas cenas.

O filme joga na tela, sob uma atmosfera de claustrofobia absoluta, uma intrigante história (ao que parece verídica – pelos menos sua campanha de Marketing assim afirma -) de um edifício onde produtos químicos e biológicos teriam causado uma infecção em seus moradores que passam a desenvolver sintomas da Raiva canina. Não por acaso, há um cachorro e um veterinário entre as personagens. O filme vai mostrando assim, a mudança de comportamento dos infectados. Que passam do racional para o irracional. Do estado de normalidade para a violência.

QUARENTENA utiliza o recurso, sempre recorrente, da idéia de zumbis. Como em vários filmes sobre mortos-vivos, aqui também, a contaminação se dá por uma mordida que transmite os sintomas e transforma o infectado em algo perigoso, mesmo sem ter pulsação cardíaca. O filme é uma diversão rápida e eficaz. O objetivo do filme é causar sustos e calafrios. Objetivo plenamente alcançado. Sob um forte impacto, o espectador assiste ao descaso das autoridades responsáveis para entre duas a duas e meia dezenas de pessoas que se vêem trancafiadas no prédio e tendo que lutar pelas suas próprias vidas. A idiossincrasia de QUARENTENA transmite uma angústia latente nos espectadores. Uma virtude e tanto.

QUARENTENA é um filme instigante e visceral. E faz um interessante jogo de ficção dentro de uma realidade em uma história ficcional. E narra a ingrata jornada de trabalho de uma dinâmica repórter de televisão em busca de um furo jornalístico para o canal de TV onde trabalha. E que, levada pela casualidade, faz instintivamente a cobertura da reportagem errada e aos poucos vai sentindo seu estado emocional ficar abalado, até ter que lutar pela sua própria existência.

sábado, 24 de janeiro de 2009


Crítica: O DIA EM QUE A TERRA PAROU

RECHEADO DE IDÉIAS E METÁFORAS QUE NÃO SURTEM EFEITO

Esta refilmagem do filme homônimo de 1951 traz no elenco um sisudo Keanu Reeves e a beldade Jennifer Connelly. É na verdade mais um filme-catástrofe sobre o apocalipse que Hollywood produz com certa regularidade. Este O DIA EM QUE A TERRA PAROU tem como princípio básico uma invasão alienígena como fato motivador do fim dos tempos. E é mais denso que similares como INDEPENDENCE DAY de Roland Emmerich.

A rotina da bióloga Helen Benson (Jennifer Connelly) é interrompida com a sua convocação para analisar uma esfera que irá cair na Terra vinda do espaço. O alienígena Klaatu (Keanu Reeves) chega ao planeta com a missão de verificar o comportamento de seus nativos. Recebido com violência e dotado de poderes especiais e incomuns, resolve salvar a Terra dos humanos. Ou seja, exterminar com os seus habitantes. Com as autoridades responsáveis agindo com rigor, Benson parece ser a única pessoa capaz de reverter a impressão inicial do alienígena de que os humanos são somente destruidores e devastadores.

O DIA EM QUE A TERRA PAROU possui em seu roteiro algumas metáforas. Klaatu seria uma espécie de Deus que tem o poder de destruir os humanos – como na época do Dilúvio - e também, a capacidade de dar-lhes mais uma chance para que reflitam e passem a ter mais humanidade para com seus semelhantes. As esferas menores que caem em vários pontos do planeta seriam como a Arca de Noé utilizadas com a finalidade de preservar um casal de cada ser vivo do planeta. Questões polêmicas que Scott Derrickson (diretor do filme) levanta.

Contando com atuações razoáveis de Keanu Reeves e Jenniffer Connelly e uma boa quantidade de efeitos especiais, O DIA EM QUE A TERRA PAROU, possui algumas virtudes que Scott Derrickson soube aproveitar. Há um estilo narrativo na forma de filmar do diretor. O ritmo lento e definido – para um filme com efeitos visuais – da câmera de Derrickson é agradável. Há muitos closes em Reeves e Connelly aceitáveis. Inaceitável seria a quantidade de pedidos de clemência que Benson faz a Klaatu. Soa um tanto piegas. Contudo, a idiossincrasia do filme é modorrenta devido ao vazio e obviedade do roteiro. Embora tenha alguns momentos interessantes, o seu resultado final é insatisfatório. Suas vicissitudes não produzem o efeito desejado, em razão das inúmeras cenas completamente dispensáveis.

O DIA EM QUE A TERRA PAROU busca vários caminhos para trilhar, sem acertar em nenhum deles. Teoriza que existe continuação da vida e também que os humanos possuem um nível de conhecimentos inferior ao demais seres de outros planetas. Aqui, fica evidente que o filme é bem afirmativo em sua essência e pretensão. Todavia, o filme deixa lacunas filosóficas e conceituais. O filme trabalha com perspectivas. A sua real intenção é ser uma obra de vanguarda.

O DIA EM QUE A TERRA PAROU trabalha com hipóteses ufológicas e Divinas. E aborda a possibilidade do fim dos tempos ao narrar a trajetória de um alienígena que ganha uma imagem humana e que, em clara antítese, aterrissa no solo norte-americano como amigo e depois de sofrer um atentado, passa a ser antagonista dos nativos ao optar pela salvação da Terra dos humanos. E percebe na figura de uma delicada moça haver sentimentos sinceros e amor suficiente entre os nativos da região – e não somente conflitos e incompreensão - para pesar na balança da existência do planeta e no seu julgamento e decisão.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Crítica: CORAÇÃO DE TINTA


SUCUMBE PELOS EXCESSIVOS ELEMENTOS NARRATIVOS

Brendan Fraser estrela mais uma aventura depois de filmar a continuação de A MÚMIA e VIAGEM AO CENTRO DA TERRA (dois filmes do mesmo gênero). Este CORAÇÃO DE TINTA é uma afirmação que o ator se sente à vontade no estilo cinematográfico e mais, os três longas foram filmados em curto espaço de tempo. Nesta recente produção a aventura é embalada sob um formato de fábula com muitos (d)efeitos especiais. E sem o mesmo encanto do clássico A HISTÓRIA SEM FIM (filme de 1984), por exemplo.

Brendan Fraser interpreta um reparador de livros e dedicado chefe de família que possui um dom especial: ao ler frases de livros em voz alta consegue trazer os personagens para a vida real. Desconhecendo a capacidade de sua paranormalidade, conduz para fora do livro Inkheart (traduzido para Coração de tinta), em certa noite, três de seus personagens e imerge sua esposa na obra. Passa então, a procurar incessantemente uma cópia do trabalho literário para trazer sua cônjuge de volta ao mundo real. Nove anos depois e com sua filha Meggie (Eliza Bennet) crescida, passam a correr riscos devido ao seu erro de outrora.

A montagem sem sincronismo aceitável; a grande quantidade de figurantes e os numerosos elementos narrativos mal ajustados e ainda, a excessiva eloqüência de algumas cenas fazem o filme sucumbir. Embora possua um roteiro atraente, o diretor Iain Softley não soube costurar a quantidade de informações que dispunha. CORAÇÃO DE TINTA possui em sua estrutura cinematográfica uma trama mal-ajambrada. Sobram os detalhes estéticos. O requinte da produção da película pode ser conferido na bela fotografia e nos cenários. Outro detalhe satisfatório é a promissora atuação da jovem Eliza Bennet.

O filme desenvolve uma interessante relação entre ficção e realidade. A passagem dos personagens do livro para o mundo de Mo (Fraser) procura provocar nos espectadores um envolvimento com a trama. A fascinação do autor do livro para com suas personagens (agora de carne e osso) é emblemática nesta afirmação. Um equívoco de Softley foi ter estendido demais a emoção incontida – reafirmada no seu desejo de fazer parte do livro - do solitário escritor.

CORAÇÃO DE TINTA possui uma leveza agradável em sua narrativa. Todavia, algumas cenas fundamentais para a condução da trama soam forçadas demais. O filme é vazio em seu conteúdo. Recheado de clichês e lugares-comuns, a película causa certo desapontamento ao fim de sua projeção. É uma fábula cujos significantes e significado não entusiasmam. Sua idiossincrasia não desperta grande interesse no espectador para com a história contada na tela.

CORAÇÃO DE TINTA é uma fábula razoável que aborda uma desinteressante e modorrenta luta entre o bem e o mal. E narra a trajetória de um homem com um dom especial, que involuntariamente comete um equívoco por desconhecer a tamanha capacidade de sua habilidade extraordinária. Busca, desde então, reparar seu engano. E procura encontrar sua amada esposa para conseqüentemente aplacar sua dolorosa angústia. Mesmo ciente da dificuldade da empreitada.